sábado, 16 de fevereiro de 2013

João Pedro Dias

Jornal O Matto Grosso 03/09/1916
João Pedro Dias é considerado o patriarca do protestestantismo em Cuiabá, e participou ativamente da sociedade cuiabana como empreendedor e como protestante, sendo pioneiro de tecnologia (eletricidade e telefonia); feitos que nem sempre são lembrados,  reforçando o dizer de Rubens de Mendonça: “morre pra sempre quem morre em Cuiabá”. Talvez isso esteja diminuindo considerando novas pesquisas sobre o protestantismo em Mato Grosso. Este cearense nasceu em Aracati, em 1867, e faleceu em Cuiabá em 1930. Segundo o manuscrito de João Alberto Dias, João Pedro Dias não era membro da Igreja Presbiteriana em Recife, mas da Igreja Congregacional. Acumulou experiência no setor de energia trabalhando em empresas do ramo em Pernambuco. Fixou residência tanto em São Gonçalo como na região central da capital. De espírito empreendedor, percebia oportunidades facilmente e conseguiu ao longo de três décadas se inserir no contexto comercial cuiabano (Santos, 2010).
Seu espírito empreendedor aparece num episódio curioso, por que não está relacionado, numa linguagem atual, ao setor energético nem ao de telecomunicações, mas ao entretenimento. Trouxera em sua mudança um fonógrafo (Santos, 2010), que gravava sons em uns cilindros feitos com cera de carnaúba; dotado com fones que permitiam ouvir o teor gravado. Era uma novidade e rapidamente atraiu a atenção de muitos curiosos. Percebendo a novidade e a demanda, o Sr Dias passou a visitar vilas e povoados, animando festas com seu aparelho e cobrando duzentos contos de reis a cada audição. Esse foi a origem do capital, que somado a um empréstimo de 5 contos de réis junto à Almeida e Companhia, Dias acumulou e utilizou para aquisição dos equipamentos necessários para instalar a primeira empresa telefônica da Capital, com o nome de Empresa Telefônica Cuiabá. Maciel (2001) informa que Dias possuía, em 1913, em menos de 10 anos de operação, 200 assinantes e que planejava expandir para 350.
O visionário também estava ciente do momento histórico e fez constar no Ábum Gráfico de Mato Grosso o anúncio de sua empresa. Este Álbum, impresso na Alemanha, é um importante documento iconográfico do período, preparado com o objetivo expresso de reunir e espalhar imagens selecionadas de Mato Grosso. Os patrocinadores da obra, além do poder público, eram justamente comerciantes ligados à exportação e importação. O público alvo era os países da América Latina, buscando difundir uma imagem positiva do estado junto ao público e possível investidores internacionais.
Este desbravador teve contato com a mensagem protestante no Ceará, onde esteve vinculado à Igreja Congregacional. João Pedro Dias chega a Cuiabá em 1889 junto com um grupo de migrantes cearenses. Sua casa era ponto de reunião dos protestantes cuiabanos, sendo ele quem liderou a solicitação ao Rev. Franklin Grahan por mais obreiros e também a cargo de sua família a recepção destes, ou seja, do casal Landes, quando chegaram a Cuiabá.
João Pedro Dias também tem histórica contribuição não apenas com a causa evangélica. Do mesmo modo que não produzia energia elétrica ou serviços de telefonia apenas para os protestantes, mas para todos os cuiabanos, sua ação como líder leigo protestante não era restrita ao ramo presbiteriano, mas a todas as igrejas reformadas que marcaram presença em Cuiabá antes de Missão Central do Brasil. Seu filho João Alberto Dias, redige primeira historiografia protestante de Cuiabá, um manuscrito de seis páginas em que logo no cabeçalho, ao que tudo indica de sua própria grafia, o título é “esboço histórico do trabalho evangélico em Cuiabá”, sendo que o termo “evangélico” está rabiscado sobre um outro termo, “presbiteriano”. Este documento está preservado no acervo do Instituto Bíblico Augusto Araújo – IBAA. Seu espírito pioneiro rapidamente se somou ao vigor missionário de Landes. A Primeira Igreja Presbiteriana foi organizada em 1920. Segundo o manuscrito de Alberto Dias, redigido para comemoração do centenário presbiteriano no Brasil em 1959; todas as outras iniciativas protestantes não redundaram novos prosélitos, à exceção de um, Camilo. Entretanto, cerca de 5 anos após a chegada dos missionários presbiterianos, a igreja Presbiteriana é organizada; tendo seu estatuto publicado no jornal local A Gazeta. Isso faz da Igreja Presbiteriana a primeira igreja reformada a se organizar civilmente em Cuiabá, tendo João Pedro Dias contribuído desde a primeira visita do rev Franklin Grahan.