quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O centenário do presbiterianismo em Mato Grosso

Em 1913, o Rev Franklim Floyd  Grahan chegou à região de Mato Grosso, conforme entendimento da Missão Brasil Central, ou CBM (Central Brazil Mission) em sua reunião em 1912. A rota era uma viagem a cavalo da Bahia até a Bolívia, buscando lugares com topografia, salubridade, potencial urbano nascente ou instalado, e as carências da população que justificassem a criação de sub-sedes da Missão. As atas da CBM de 1912 registram  "voted... that he chose sites for stations for the envangelization of that region; that one of these sites be for a school on the Ponte Nova basis... (que escolha (o rev Grahan), lugares para estações (missionárias) para evangelização da região, que um desses locais seja para uma escola ao estilo da Ponte Nova)
  A CBM mantinha na Bahia um complexo missionário chamado de Ponte Nova, que incluía escola, hospital, fazenda e capela, entre outras atividades. O projeto era replicar o modelo da estação missionária Ponte Nova em outros locais do Brasil. Projetado por Waddel, essas escolas rurais eram de um modelo e foco diferente dos grandes colégios, como as Escolas Americanas. A CBM, juntamente com a South Brazil Mission, integravam a “Brazil Mission” entidade missionária presbiteriana da PCUSA –  Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América ou “igreja do norte” –,  com sede em Nova York. Dado o tamanho do nosso país, a Brazil Mission percebeu não ser muito produtivo deslocar seus obreiros pelo vasto território bienalmente para as assembléias. Questões administrativas demoravam meses para se decidir, atrapalhando o sucesso em várias frentes missionárias.
  Assim, dividiu-se, em 1896, (Nascimento, 2008) em Central Brazil Mission (CBM), e South Brazil Mission (SBM),  para que pudessem agilizar aspectos financeiros, como pagamento dos missionários e questões imobiliárias e do campo. A primeira supervisionava os estados da Bahia, Sergipe, Goiás, norte de Minas Gerais e Mato Grosso e a segunda os estados do Rio de Janeiro, sul de Minas Gerais, São Paulo, Paraná e ia até Santa Catarina (Matos). Os membros dessas duas entidades era os missionários designados pelo Board de Nova York para atuar nesses estados. Entretanto, as dificuldades de logística, conforme aponta Nascimento (2008), fizeram que o arranjo original fosse mudado para atribuir à SBM as instituições organizadas em Goiás, Mato Grosso e norte de Minas Gerais. Essa nova configuração foi formalmente apresentada em dezembro de 1932, quando foi elaborado o novo estatuto da CBM, que já não menciona Mato Grosso entre os campos sob sua jurisdição.
  A CBM tinha aprovado em 1912 que Grahan fizesse uma longa expedição até a Bolívia, passando por Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso; procurando locais para instalação de uma nova sede, semelhante que existia na cidade de Ponte Nova. Durante sua estada em Cuiabá, após retornar da divisa com a Bolívia, Grahan fez várias visitas a pontos estratégicos fora da capital, como Poconé, Cáceres, Barra do Bugres, Diamantino, Rosário do Oeste, Vila da Chapada e a Fazenda Buriti. Em 1937, a South Brazil Mission encerra suas atividades no Brasil, tendo passado as igrejas brasileiras os campos sob sua comarca. Desse modo, no estado de Mato Grosso as atividades presbiterianas que não fossem geridas por nacionais voltam à jurisdição da CBM. Muitos missionários da SBM também foram recebidos pela CBM que continuou suas atividades até 1971 em solo brasileiro.
  Isso fez com que durante certo tempo os estudos de implantação do Colégio Buriti fosse assunto da CBM, enquanto a evangelização ficava mais a cargo da SBM. É justamente a SBM que envia Phillipe Landes, em 1915, para assumir em definitivo uma congregação presbiteriana que o Rev Franklin Grahan iniciara justamente em 1913, há cem anos. Dez anos depois, a SBm também assume a criação da Escola Buriti. Algumas linhas sobre essa congregação.
 Em 11 de 1899 chega a Cuiabá João Pedro Dias e família; a tempo de alguns ainda ouvirem os últimos sermões do metodista John Price. Dias (1958), narra que a iniciativa protestante cessa, pois além da retirada de Price, a família Dias passa a residir em São Gonçalo, impedindo João Dias de atuar como líder leigo; também este pouco conheci da capital. Do pioneirismo metodista não houve conversões a não ser um: Manoel Camilo Fernandes. Os demais simpatizantes foram se dispersando. Cuiabá ficou sem presença reformada até 1901, quando chegam os batistas Frederico Glass e Henrique “de tal”. Fixaram-se na rua Ricardo Franco, em seguida proferiram uma série de conferências ao ar livre; depois no prédio onde moravam. Dias (1958) registra que era um trabalho ambulante, mobilizador de grande audiência por toda a cidade. Porém foi de curta duração e a iniciativa voltou a cessar.
    Nesse intervalo, o caráter de enfrentar desafios de João Pedro Dias o fez manter atividades regulares de pregação em sua casa; João Pedro Dias continua como líder leigo até a chegada do Rev. Franklin Grahan em 1913. Sua mini comitiva contava com um seminarista, Antonio dos Santos e de um tropeiro, Marcolino Barreto. Em seu esboço histórico, Dias descreve essa chegada como “acidentalmente”. Veremos logo adiante que essa viagem a Cuiabá não teve nada de acidental, antes fora estrategicamente pensada pela missão presbiteriana que enviara Grahan, a Missão Brasil Central.
    O patriarca Dias recebeu a minicaravana e os hospedou no hotel Gama. Tiveram longa e acalorada conversa. Decidiram seguir viagem, mas Pedro Dias insistiu que ficassem mais, no que foi atendido. Grahan ficou um mês, em seguida seguiu viagem até a Bolívia. O tropeiro e o seminarista ficaram e prosseguiram com a agenda de cultos. De volta em janeiro de 1914, terminando a conversa com a decisão de Grahan de só trazer o pequeno rebanho sob liderança presbiteriana mediante anuência da liderança batista que havia o ultimo casal de missionários. Entendidas as duas igrejas e seus representantes, Grahan exigiu de Pedro Dias o aluguel de um imóvel adequado para o serviço de pregações.
    João Dias aceitou as condições, se bem que o acordo entre as missões batista e presbiteriana só se confirmou por carta, após a partida de Grahan. João Dias alugou um imóvel na rua Barão de Melgaço, 86; fez também instalar ali iluminação a acetileno, para o que contratou José Lotufo. Tudo isso às suas expensas, pois tinha sido advertido que a Missão Central do Brasil não dispunha de verba para esse fim ainda.
    Esse grupo seguiu reanimado e unido em torno expectativa de êxito agora com a ajuda dos missionários presbiterianos. Em outubro de 1914 (Dias 1958) foi celebrada nesse novo prédio de cultos a primeira Eucaristia ou Santa Ceia, como é conhecida entre os protestantes. Vários foram recebidos como membros inclusive o patriarca João Dias. O Rev. Franklin Grahan deixou Cuiabá com destino a São Paulo em janeiro de 1915, após fazer retornar para a Bahia seus dois companheiros de caravana. Chegando a São Paulo apresentou seu relatório a Missão Sul do Brasil. Em agosto a mesma decide enviar para Cuiabá o jovem brasileiro Phillipe Landes e sua esposa Margareth Landes. No intervalo entre a saída e a chegada do novo obreiro o ponto dos cultos foi transferido, por conveniência do local (Dias 1958) para a Rua Antonio Maria, 46, onde o Rev. Phillipe Landes iniciou seu trabalho.
    Culto, brasileiro, com formação em teologia, artes e dois anos de medicina, todos cursados nos Estados Unidos, pois era filho de missionários norte-americanos, o primeiro pastor enviado pela Missão Sul do Brasil se aproveita logo na sua chegada de uma disputa local entre positivistas e católicos para pregar em praça pública a um grande auditório. Eram as rachaduras nas muralhas da igreja oficial que os pregadores da reforma sabiamente aproveitaram em solo brasileiro. O bispo Carlos d´Amour recusou a entrada da bandeira brasileira na catedral, justamente no velório de um intelectual positivista, Afonso Pena. Isso acirrou os animos anticlericais e Landes faz sua primeira homilia em plagas cuiabanas nesse contexto de disputa entre liberais e católicos romanos.